Querido colega,
Falemos um pouco sobre as gaitas de fole,
aquele instrumento que parece não ter forma definida, com bolsas que
vão escapar das mãos do tocador e com penduricalhos e pontas como
flautas fincadas nas bolsas. E, afinal, o músico que toca uma gaita
de fole parece um militar reformado ou alguém ligado a algo como a
cruz vermelha, não é? Não se engane, isso é parte substancial da
mística da gaita de fole. Sem isso ela pareceria um polvo em
exposição fora da água.
Bem, a gaita de fole é o cavaquinho para os
escoceses. Aerofone... usa de vibração. Funciona assim: possui um
tubo, em geral, e um assoprador, ligados a um recipiente de ar: é o
fole (a bolsa). Mas é comum mais de um destes tubos. Porém não
estamos falando da riqueza melódica de um cavaquinho (que já é
bastante reduzida, hein?), estamos falando de um instrumento modal,
como um berimbau. Emite longas e intermináveis notas Dó. Uma gaita
de fole típica se confunde com a roupa do músico; não sabemos onde
começa uma e outra, e isso já é parte da melodia. Não é como os
outros instrumentos de sopro. Ela pode tocar sem que o tocador pare
para respirar, pois seu som é contínuo.
De profundamente irritante a sonolenta e
dócil, a gaita de fole depende do ambiente que modula a alma do
tocador. Nós raramente encontraremos gaitas de fole em PUBs, como as
encontraremos em ruas, em castelos, em situações oficiais.
Estranhamente a docilidade do instrumento ganhou as ruas, os espaços
abertos, não a tonalidade outonal de um PUB; isso se deve sobretudo
ao alcance de seu timbre, ao temperamento de seu som, à
personalidade forte de seu sopro.
Nós a veremos por toda a Escócia.
Um abraço,
Lúcio
(20 de junho de 2011) |
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