Querido colega,
Escrevo de Florianópolis. Ontem, em Cascavel,
oeste do Paraná, abri a nova turma de formação nas Faculdades Itecne.
Um grupo interessado, com pessoas de várias cidades da região,
esteve trabalhando durante todo o dia comigo.
Hoje, umas palavrinhas sobre os castelos
escoceses, aquelas construções que aparecem nas fotografias nas
proximidades de um lago, de um alcantil, entre nuvens e sóis,
geralmente belos de uns 300 anos para cá. Antes disso precisavam
somente do abrutalhado da pedra porque tinham como objetivo a
proteção.
Mesmo os mais brutos e antigos são belos, mais
pela paisagem que os cerca do que por eles. Quando, com o passar do
tempo, evoluem, os embates entre os clãs diminuem, os castelos ainda
seguem sendo construídos; o muramento ganha janelões e assim as
muralhas começam a parecer as nossas paredes modernas; elementos
barrocos e renascentistas surgem, mas não em uma ordem de coerência.
Zimbórios, domos surgem. Por serem decorativos, humanizam os
castelos concedendo a eles o que em nossas casas chamamos de
telhados. Partes verticais, colunelos, ocupam os espaços ameaçadores
que havia no cume das muretas. Olhando o conjunto de longe nota-se
então que o castelo se transformou em uma grande casa.
Ouviremos muitas histórias sobre os castelos
escoceses. Um castelo escocês que se preze tem ao menos um
fantasma. Exemplos: o gaiteiro do Castelo Duntrune; a Dama Verde do
Castelo Muchalls, em Aberdeenshire. Os fantasmas existem na Escócia
por várias razões: porque certas histórias não podem simplesmente
terminar, por causa da poesia barroca que sopra à noite, por conta
da geografia com suas coreografias vivas, da imaginação e,
eventualmente, por causa dos próprios fantasmas. Além disso,
castelos e fantasmas combinam da arquitetura à vida social. É
notadamente falta de cortesia questionar a existência de fantasmas.
Lembre que, entre outras coisas, estaremos no país das fadas, das
colinas verdejantes, de gente amistosa, de duendes, de lagos
habitados por monstros. Neste contexto de princesas, castelos,
lendas, fantasmas são parte da decoração existencial. Caem bem.
Um abraço,
Lúcio
(06 de junho de 2011) |
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