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A Filosofia Dialógica de Martin Buber e a Filosofia Clínica

Universidade Hebraica de Jerusalém e Instituto Packter

 

Post-Graduate Seminar: Dialogic Philosophy of Martin Buber and  Clinical  Philosophy

Hebrew University of Jerusalen and Instituto Packter

 

Estimado estudante,

Você alguma vez sentiu que a pessoa que ama estava fora de seu alcance, ainda que tocasse a pele dela, ouvisse sua voz, e concordassem sobre o que estavam falando? Passou pela experiência de intuir que era um objeto para alguém, não um ser humano? Quantas vezes se sentiu vazio, sem perspectiva, avaliando-se como uma criatura que desperdiçou a riqueza de uma vida?

Mas também você amou, conseguiu estar profundamente conectado a alguém, de tal modo que não havia mais um você e a outra pessoa? Viveu o fenômeno de ter tanto a outra pessoa em você que praticamente se tornaram uma única alma?

Estas questões estão arraigadas no pensamento de Buber. Ele aprendeu o encontro após ter vivenciado por muito tempo o "desencontro", "o fracasso de um verdadeiro encontro entre os seres humanos". 

Martin Buber é um filósofo que vem recebendo atenção a cada momento maior em nossos dias em alguns dos principais centros de pesquisas em Filosofia e Psicologia. Diversos elementos que Buber especificou na relação dialogal por vezes são essenciais nas interseções entre pessoas, na ética, na existência.

Em clínica a relevância dos trabalhos de Buber é notória. Por si somente, a relação Eu-Tu anuncia, adverte, posiciona  um convite a reflexões sobre humanismo, coisificação, experiência. O Eu-Isso se expandiu com a tecnologia nas últimas décadas e fez recuar o Eu-Tu, segundo Buber. De certo modo, este evento muito se manifesta nas relações humanas, nas famílias, nas culturas, em muitos aspectos que chegam ao consultório.

Quantas vezes tornamos a pessoa uma coisa? Quantas vezes nos tornamos coisa? Será que enquanto ganhamos em experiência, em conhecimento, em compreensão dos fenômenos estamos afastando o Tu de nós?

O que podemos fazer? Como auxiliar este encontro presencial, face com face, este diálogo no qual o outro é um eu que me habita?

Buber antecipou em décadas muitas preocupações dos nossos dias. Convidou a fazermos uma profilaxia possível. Este convite é atual, permanece.

Durante setembro estaremos pesquisando com profundidade estes temas com grandes especialistas no assunto da Universidade Hebraica de Jerusalém. Filósofos brasileiros participarão com empenho grande nesta importante conversação.

Teremos muitos momentos de estudos em caminhadas ao longo do rio Jordão, pelas encostas suaves do mar da Galiléia, pela orla do mar Mediterrâneo. Faremos conversações nos jardins e nas salas de aula da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Alguns alunos perguntam sobre o idioma e as dificuldades. Todo o trabalho utilizará basicamente três idiomas: espanhol, português, inglês. Eventualmente, o hebraico. Como coordenador da jornada compete a mim servir de tradutor intérprete em casos de dificuldade.

Este projeto foi carinhosa e cuidadosamente preparado. Verifique se a proposta de estudos desta jornada possui afinidade com os seus interesses. Sonho, filosofia, vida mais uma vez se encontram.

Um grande abraço,

Lúcio Packter

 

Aula proferida por Lúcio Packter em 2012 nos jardins da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel.