Estimado estudante,
Você alguma vez sentiu que
a pessoa que ama estava fora de seu alcance, ainda que tocasse a
pele dela, ouvisse sua voz, e concordassem sobre o que estavam
falando? Passou pela experiência de intuir que era um objeto para
alguém, não um ser humano? Quantas vezes se sentiu vazio, sem
perspectiva, avaliando-se como uma criatura que desperdiçou a
riqueza de uma vida?
Mas também você amou,
conseguiu estar profundamente conectado a alguém, de tal modo que
não havia mais um você e a outra pessoa? Viveu o fenômeno de ter
tanto a outra pessoa em você que praticamente se tornaram uma única
alma?
Estas questões estão
arraigadas no pensamento de Buber. Ele aprendeu o encontro após ter
vivenciado por muito tempo o "desencontro", "o fracasso de um
verdadeiro encontro entre os seres humanos".
Martin Buber é um filósofo
que vem recebendo atenção a cada momento maior em nossos dias em
alguns dos principais centros de pesquisas em Filosofia e
Psicologia. Diversos elementos que Buber especificou na relação
dialogal por vezes são essenciais nas interseções entre pessoas, na
ética, na existência.
Em clínica a relevância dos
trabalhos de Buber é notória. Por si somente, a relação Eu-Tu
anuncia, adverte, posiciona um convite a reflexões sobre
humanismo, coisificação, experiência. O Eu-Isso se expandiu com a
tecnologia nas últimas décadas e fez recuar o Eu-Tu, segundo Buber.
De certo modo, este evento muito se manifesta nas relações humanas,
nas famílias, nas culturas, em muitos aspectos que chegam ao
consultório.
Quantas vezes tornamos a
pessoa uma coisa? Quantas vezes nos tornamos coisa? Será que
enquanto ganhamos em experiência, em conhecimento, em compreensão
dos fenômenos estamos afastando o Tu de nós?
O que podemos fazer? Como
auxiliar este encontro presencial, face com face, este diálogo no
qual o outro é um eu que me habita?
Buber antecipou em décadas
muitas preocupações dos nossos dias. Convidou a fazermos uma
profilaxia possível. Este convite é atual, permanece.
Durante setembro estaremos
pesquisando com profundidade estes temas com grandes especialistas
no assunto da Universidade Hebraica de Jerusalém. Filósofos
brasileiros participarão com empenho grande nesta importante
conversação.
Teremos muitos momentos de
estudos em caminhadas ao longo do rio Jordão, pelas encostas suaves
do mar da Galiléia, pela orla do mar Mediterrâneo. Faremos
conversações nos jardins e nas salas de aula da Universidade
Hebraica de Jerusalém.
Alguns
alunos perguntam sobre o idioma e as dificuldades. Todo o trabalho
utilizará basicamente três idiomas: espanhol, português, inglês.
Eventualmente, o hebraico. Como coordenador da jornada compete a mim
servir de tradutor intérprete em casos de dificuldade.
Este projeto foi carinhosa e cuidadosamente
preparado.
Verifique se a proposta de
estudos desta jornada possui afinidade com os seus interesses.
Sonho, filosofia, vida mais uma vez se encontram.
Um
grande abraço,
Lúcio Packter
Aula proferida por Lúcio Packter em
2012 nos jardins da Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel. |