Querido colega,
Escrevo de minha casa. Lareira acesa, pois a
temperatura está em 8 graus nesta sexta-feira. Em algumas horas vou
até uma aldeia, perto da praia, jantar com a Dayde.
Bem, sairei pouco depois do meio dia do
aeroporto Salgado Filho, aqui de Porto Alegre, e à noite temos um
agradável jantar, ou apenas uma acolhedora conversa, regada a um bom
tinto, no hotel em São Paulo.
As orientações foram muitas nestes últimos
meses, hein? Eu sei que alguns vão sair praticamente correndo para o
aeroporto, outros estão deixando problemas pendentes em casa, outros
arranjaram uma alergia ou uma gripe na última hora, alguns estão com
aquele friozinho na barriga, e tem gente que conseguiu todas estas
coisas ao mesmo tempo. Olha, vamos fazer assim: entregue estas
coisas para mim. Eu darei um endereço a elas. Cultivemos juntos o
jardim.
Esta é uma viagem com essências autogênicas.
Vamos conversar muito, fazer ajustes em nossas EPs, muitos elementos
via Vice-Conceito serão suavemente semeados, e muitos deles darão
doces frutos.
Nossa jornada é um horizonte de paz e
conhecimento no qual o coração e a alma se reconhecerão no espaço
que vai das estrelas aos lagos. Um dos objetivos imediatos é
aprender a passear pela vida; um dos objetivos últimos é a
serenidade na existência.
Me dê a sua mão, vamos passear. Juntos vamos
nos emocionar. Lembre de contar comigo para sorrir, para chorar,
para quando tiver dor de barriga, para partilhar suas observações,
porque tudo isso é parte da jornada.
Em uma aldeia aqui perto, aldeia chamada Imbé,
linda praia, certa ocasião eu parei para uma almoço tardio, no
outono, três da tarde, um peixe na brasa, e ouvi a seguinte história
de um pescador: o neto dele vivia na cidade e nunca tinha visto o
mar. Quando completou 5 anos ficou encantado ao saber que o mar era
salgado. Não podia acreditar naquilo e fazia muitas perguntas. Então
um dia, após muitos adiamentos, a mãe o trouxe a Imbé para conhecer
o mar com o avô. Eles tomaram a embarcação, contornaram o pontão e
rumaram para a ponte. O menino exclamava ‘como era lindo o mar’, mas
o avô em silêncio espreitava os moles da barra do rio. O menino
achava que estavam no mar... Então, os moles se afastaram, abriram,
as ondas se tornaram mais longas, cadenciadas, profundas; os sons se
fizeram mais graves e a água se tornou subitamente mais azul
petróleo. Os horizontes se abriram e as margens de terra
desapareceram. O menino abriu os braços e com os olhinhos marejados
de encantamento gritava para o vento aberto: “é o mar, vovô, é o
mar, vovô... “ - para o velho pescador que, emocionado, sorria de
volta.
Um abraço,
Lúcio
(02 de setembro de 2011) |
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