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Presente de grego
Brasileiros exportam sua Filosofia Clínica, por Jussara Goyano No Brasil, parece que a onda Mais Platão, menos Prozac não interessou apenas ao escritor Paulo Coelho, que fez a apresentação de livro homônimo do professor canadense Lou Marinoff. À revelia dos que atacam Marinoff, alguns brasileiros praticam e exportam, em forma de conhecimento científico, algo semelhante ao polêmico Aconselhamento Filosófico alardeado no referido best-seller (um sucesso de vendas em 20 países). Em 2006, o psicanalista e filósofo Lúcio Packter, do Rio Grande do Sul, prevê a abertura de diversos centros de estudos da brasileiríssima Filosofia Clínica pela Europa. Trata-se de uma corrente criada pelo próprio gaúcho em fins da década de 80, que, aos poucos, toma conta das Universidades nacionais. É o avanço do País em questões controversas dos novos rumos de uma ciência tão antiga quanto pouco explorada nos tempos modernos.
Maré contrária
Não são os psiquiatras e os psicólogos, porém,
os únicos que questionam a eficácia e os métodos da Filosofia Clínica. Um dos
primeiros filósofos a “clinicar”, oferecendo tratamento individual de questões
existenciais, foi Gerd Achenbach, na Alemanha, por volta de 1981. É um crítico,
porém, de Marinoff e seus seguidores. Num programa estadual de prevenção de
suicídios, atuou como conselheiro de potenciais suicidas, incitando a discussão
filosófica dos motivos que levariam essas pessoas a acabarem com a própria vida.
Mas não chegou a elaborar métodos para executar esse ou outros trabalhos
parecidos. A discordância da metodologia elaborada para o Aconselhamento conduz
ataques aos filósofos práticos de hoje, que conseqüentemente se estendem a
filósofos clínicos. “Mas o maior desafio atualmente enfrentado pela Filosofia
Clínica diz respeito aos custos e ao modo de tornar viáveis as pesquisas para o
desenvolvimento e a consolidação dos trabalhos”, acredita Packter.
Em contraponto, tem-se a já mencionada abertura de centros internacionais, prevista para o ano que vem, e o cálculo de Packter de que a cada 20 dias abre uma entidade ligada à Filosofia Clínica, todas com alguma produção científica. “Associações estaduais de Filosofia Clínica existem de Manaus a Porto Alegre. Além disso, há as comissões e conselhos de ética espalhados pelo País”, avalia o psicanalista e filósofo. Já são mais de 4 mil especialistas em Filosofia Clínica. “Entre estes há nomes de destaque como Hélio Strassburger e Mariza Niederauer, ambos de Porto Alegre; Alex Lamonatto, de Vitória (ES); Mônica Aiub, de São Paulo (SP); Margarida Nichele Paulo, de Curitiba (PR); Olga Hack, de Brasília (DF); Maria dos Santos Lopes, de São Luís do Maranhão (MA), e outros colegas importantes na parte prática. Há, também, colegas de renomada produção teórica, como Mariluze Ferreira e José Maurício de Carvalho, ambos de Minas Gerais (MG); Gláucia Tittanegro, de São Paulo. A lista é grande e pelo menos outros vinte nomes podem se unir a esses”, lembra Packter.
O modelo de um consultório clínico dirigido por um filósofo aguça a curiosidade das pessoas que entram em contato com a Filosofia Clínica. “Apenas pelo conforto, um sofá ou divã são admitidos. O filósofo clínico também pode trabalhar caminhando em parques, em bibliotecas e cafés. Seu campo de atuação ultrapassou as paredes dos consultórios”, explica Packter. Em jardins ou divãs, a ordem é não influenciar as respostas do partilhante a respeito de sua historicidade e sobre a construção do pensamento que tem das questões conflitantes de sua vida. É dessa forma, por exemplo, que o especialista Mário Alves trabalha no setor de oncologia do Hospital das Clínicas de Uberlândia (MG), acompanhando o dia-a-dia de pessoas que lidam com a dor. Ele está presente nos últimos momentos de muitos desenganados, ajudando alguns deles a lidar com a morte iminente e viver com menos conflitos, aproveitando melhor o tempo que lhes resta. Há também casos em que a Filosofia Clínica é utilizada para fazer com que o paciente da oncologia aceite espontaneamente a morte.
A Filosofia Clínica também é usada com sucesso em escolas, como mostra o trabalho desenvolvido em educação por Mônica Aiub, presidente da Associação Paulista de Filosofia Clínica. Mônica orienta professores, alunos e pais em questões que podem ser trabalhadas do ponto de vista filosófico, dentro e fora da sala de aula. Em atividades ligadas ao corpo, destaca-se o trabalho desenvolvido por Márcio Lunardelli, em Florianópolis, que é pioneiro nessa aplicação da Filosofia Clínica. As pessoas “matam” o corpo (daí vêm os males como obesidade, dores e stress, entre outros) e é preciso saber as causas disso. Mais uma vez, a interdisciplinaridade é a tônica dos trabalhos com Filosofia Clínica, explica Packter, citando correntes neo-behavioristas, da neurofisiologia, da farmacologia e da gestalt, todas consideradas pelos filósofos clínicos. Origem antiga
Um best-seller, muitas discussões Em Mais Platão, menos Prozac (editora Record), Lou Marinoff não desfaz da importância da terapia psicológica e da a assistência psiquiátrica. Ressalta que, quando executadas por profissionais competentes, são altamente eficazes. E mais eficientes se tornam quando aliadas ao aconselhamento filosófico. Esta é, para o autor, uma abordagem mais completa, com respostas para as questões afetivas, profissionais e até mesmo para o medo da morte. Em seu Aconselhamento Filosófico, por meio do processo PEACE (problema, emoções, análise, contemplação, equilíbrio), os aconselhados aprendem a lidar com suas angústias cotidianas. O que Marinoff faz, na verdade, além de mostrar sua metodologia, é provocar psiquiatras e psicólogos, ao dar a entender que eles invadiram um campo de atuação que é da Filosofia. Para saber mais: www.filosofiaclinica.com.br – Página do Instituto Packter, berço da Filosofia Clínica www.appa.edu – American Philosophical Practioners Association (APPA), nos Estados Unidos
www.loumarinoff.com
– Página de Lou Marinoff |
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