O FILÓSOFO NO CONSULTÓRIO

               Juiz de Fora, MG, sexta-feira, 27 de Fevereiro de 2004

 

Juiz de Fora tem final de semana com dois encontros sobre filosofia clínica

 

 

 

 

A filosofia vai estar em alta em Juiz de Fora neste final de semana. Dois eventos vão mostrar que as idéias e reflexões dos grandes pensadores podem ter uma utilidade bem prática em nosso cotidiano. O primeiro deles é o seminário que trará a JF o gaúcho Lúcio Packter, fundador da Filosofia Clínica no Brasil __ um ramo em que o filósofo atua como terapeuta. Sim, de acordo com esta controvertida modalidade de filosofia, que surgiu na década de 80 na Europa e é encarada com restrições por muitos psicólogos e psicanalistas, o conhecimento filosófico pode ser empregado como tratamento de conflitos existenciais, como depressões, angustia e ansiedade.

Assim, as teorias dos clássicos e contemporâneos fundamentam a assessoria filosófica do paciente. Não há uso de medicamentos, diagnóstico ou divã. O tratamento é basicamente a discussão  dos dramas e problemas pessoais e não está restrito ao espaço de um consultório. Pode acontecer em lugares públicos, como um jardim, uma biblioteca ou uma capela __ enfim, onde a pessoa se sentir melhor.

Esta “conversa”, entretanto, só vagamente se parece com os velhos diálogos socráticos, garante Lúcio Packter. Segundo ele, a Filosofia Clínica também difere do “aconselhamento filosófico” pregado por filósofos como Lou Marinoff, autor de “Mais Platão, menos Prozac”, e Alain de Botton, de “As consolações da filosofia”, dois livros de publicação recente que fizeram muito sucesso divulgando que o pensamento dos grandes filósofos pode ser aplicado à compreensão de desafios, perdas e conflitos pessoais.

O aconselhamento, de acordo com Packter, não tem a metodologia da Filosofia Clínica, que parte de um levantamento sobre a historicidade do paciente (interpretação de fatos de sua vida pessoal e suas implicações atuais e futuras) e inclui outros procedimentos para avaliar o caso e ajudar a pessoa a entender seu comportamento. O tratamento, segundo Lúcio Packter, é curto: varia entre seis meses e um ano. Não há propriamente uma alta, no sentido médico convencional.

Muitas vezes, é um acordo tácito entre o filósofo clínico e o paciente que encerra o processo, com um direcionamento quanto àquilo que se mostrou o melhor caminho para a  pessoa se sentir bem. Em alguns casos, será necessário ainda um acompanhamento.

É um procedimento competente e tem mostrado eficácia com muito sucesso __ assegura Packter; que contesta a existência de oposição de psicólogos e outros profissionais do ramo. __ Não existe rixa. Boa  parte dos alunos são psicólogos __ informa. Segundo ele, a Filosofia Clínica ainda causa controvérsia porque é um discurso novo. __ Nunca houve filósofo que obteve unanimidade. Isso é próprio da filosofia. Ou teríamos um dogma.

Para se tornar um filósofo clínico, é preciso ser formado em curso de filosofia reconhecido pelo Ministério da Educação. O interessado então fará um curso de especialização em Filosofia Clínica, de dois anos de duração. O Instituto Packter, fundado em 1994 em Porto Alegre, é o único centro de formação de filósofos clínicos no Brasil, mas cede a centros e associações estaduais e municipais os procedimentos, textos, assessoria e o direito de usar o nome Filosofia Clínica, desde que observado um Código de Ética.

Lúcio Packter vai ministrar a aula inaugural em Juiz de Fora neste sábado, que terá entrada franca. O seminário aberto a profissionais da área médica, psicólogos, pedagogos e estudantes de filosofia __ prossegue até domingo, das 8h30m às 18h, no auditório da Paulus ( Avenida Rio Branco 2590 ). O evento marca o início da primeira turma de pós-graduação em Filosofia Clínica de Juiz de Fora.