Diário da Manhã

Goiânia, 04 de novembro de 2004


 

Cura pela conversa

Filosofia Clínica é um método de tratar doenças sem medicamentos que utiliza a terapia do diálogo

 

                                

 

Olacir Dias
Especial para o DM


A advogada e procuradora jurídica Conceição Rocha sofria de angústia e depressão. Fez vários exames médicos, mas nenhum problema orgânico foi detectado. Era emocional. Assistindo um programa de televisão, ficou conhecendo a Filosofia Clínica e partiu para o tratamento. Seis meses depois, sob orientação do professor de Filosofia Will Goya, se diz totalmente recuperada.

“Fiquei muito bem graças a Deus”, explica. Ela elogia a forma como a terapia foi conduzida. “É uma partilha entre a pessoa e o filósofo, sem frases programadas, tudo acontece naturalmente. Você deixa de lado os elementos que o perturbam no dia-a-dia.”

Desenvolvido pelo filósofo gaúcho Lúcio Packter, o tratamento procura utilizar o conhecimento filosófico direcionado à psicoterapia; a atividade filosófica aplicada na terapia do indivíduo. “Buscamos conhecer o histórico de vida das pessoas e assim encontrar os elementos que estão incomodando e ocasionando os problemas em sua vida”, explica Packter.

Há 15 anos o professor começou seus estudos, buscando ajudar as pessoas que sofrem de depressão, insônia, estresse, angústia, todos males da alma humana na era moderna, e que podem ser tratados pela filosofia, desde que não sejam problemas orgânicos. “Se conhecermos detalhadamente a vida da pessoa, podemos buscar elementos que a deixem subjetivamente de outras maneiras,” diz. Segundo ele, brigas, barulho, comidas indesejáveis e pressão no trabalho são fatores que podem gerar problemas emocionais.

Desmaios – A empresária Vanessa Guimarães da Silva, 31, também está se tratando com a Filosofia Clínica. Ela tinha desmaios freqüentes. Em qualquer lugar apagava por dez, quinze minutos. “A primeira vez que desmaiei foi na cozinha do meu hotel, conversando com uma funcionária. Fui sentindo um calor e caí. Certa vez também apaguei em um churrasco na casa de uma amiga. Caí da cadeira, quebrei copo e não vi nada.”

Fez vários exames e nada foi constatado. Chegou a fazer até uma tomografia computadorizada. Por intermédio de uma amiga, ficou conhecendo o método. Depois de um mês em tratamento não teve mais desmaios e fez questão de continuar a terapia. “É maravilhoso, ele também faz análise dos sonhos.”

Segundo o professor Lúcio Packter, é importante que a pessoa, ao apresentar tais problemas e constatar que estes não decorrem de problemas orgânicos, procure logo a terapia. “Se não procurar ajuda e continuar se torturando existencialmente, fica mais difícil uma recuperação completa”, ressalta.

Origens na Grécia - Na Grécia antiga, os primeiros filósofos eram especialistas em curar males da alma. Sócrates (479 a.C) costumava sentar-se nas ruas e praças para conversar com as pessoas, que procuravam aconselhamentos com o filósofo em busca de soluções para seus problemas.

Há dez anos o professor Lúcio Packter divulga seu trabalho. Hoje a Filosofia Clínica já existe desde Manaus até Santa Maria no Rio Grande do Sul, sendo o maior trabalho universitário de especialistas, mestres e doutores em Filosofia. Entre os dias 25 e 30 de outubro foi realizado, na Faculdade de Filosofia São Miguel Arcanjo, em Anapólis, o terceiro encontro do Centro-Oeste de Filosofia Clínica, onde o professor Lúcio também coordena o curso de pós-graduação, com duração de 18 meses. Já existe em Goiânia a Associação Goiânia de Filosofia Clínica, onde profissionais formados já estão atendendo várias pessoas, em Goiânia e Anápolis.

Todos os professores graduados em Filosofia podem fazer a pós-graduação em Filosofia Clínica, mas mesmo aquelas pessoas que são formadas em outras áreas podem também fazer o curso, só não podendo clinicar. “Mas isso não impede que ela possa utilizar esses conhecimentos de maneira informal em sua área”, diz Marisa Roveda, professora de Filosofia e aluna do professor Lúcio Packter. Segundo Marisa, a Filosofia Clínica também trará outros benefícios, como, por exemplo, um novo mercado de trabalho e não apenas nas áreas de docência e pesquisa, tão comuns aos filósofos.

A Filosofia Clínica conta com um site oficial, um jornal de circulação nacional e em breve a Universidade Federal de Minas Gerais, Campus Dom Bosco, estará lançando uma revista internacional sobre o assunto.

 

·  Filosofia Clínica
É o uso do conhecimento filosófico direcionado ao tratamento do indivíduo.

·  Tratamento
O filósofo procura conhecer a história de vida do indivíduo, compreender seu cotidiano e assim identificar os males de seu mal-estar, para eliminá-los. Não há uso de medicamentos. Todo o tratamento é realizado pelas conversas ao longo da terapia, que acontecem uma vez por semana e duram cerca de cinqüenta minutos.

·  Indicações
Depressão, insônia, estresse e angústia.

·  Quem é filósofo clínico?
Profissionais graduados em Filosofia e com pós-graduação em Filosofia Clínica