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ZERO HORA ( junho de 1998 ) FILOSOFIA CLÍNICA SURGE COMO OPÇÃO O conhecimento filosófico pode ser aplicado à psicoterapia. Esse é um dos princípios da Filosofia Clínica, curso livre destinado à preparação de filósofos graduados para o exercício clínico em consultórios, empresas, clínicas e hospitais. Assim como psiquiatras e psicólogos, os filósofos clínicos atendem pessoas dispostas a resolverem seus problemas emocionais ou comportamentais. O curso não tem reconhecimento do Ministério da Educação (MEC) e enfrenta alguma resistência no meio acadêmico, mas já é ministrado em 18 cidades brasileiras. A Filosofia Clínica é obra do filósofo gaúcho Lúcio Packter, formado pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição. A partir de experiências adotadas nos Estados Unidos e na Europa, Packter concebeu uma forma de terapia fundamentada nas idéias de filósofos como Aristóteles, Platão, Sócrates, Wittgenstein, Sartre e Foucault. - O objetivo é aplicar a atividade filosófica à teoria do indivíduo - diz Packter. - Não trabalhamos com conceitos como loucura e normalidade, buscamos conhecer a pessoa e ajudá-la a sentir-se bem. Packter afirma que existem em torno de 40 filósofos clínicos em atividade em todo o país. Metade deles foi formada pelo Instituto Packter, fundado em 1994 em Porto Alegre. As aulas do curso de Filosofia Clínica são semanais, em um período de um ano e meio. - As aulas são práticas com a análise de casos já tratados por filósofos clínicos - revela Packter. Entre um encontro e outro, os alunos dedicam-se à leitura dos 18 cadernos que compõem o curso, contendo as teorias dos autores que dão base à Filosofia Clínica. No estágio final, cada aluno exercita a parte clínica assumindo um paciente, que na Filosofia Clínica é chamado de partilhante. - Conforme o desempenho do aluno nesse estágio, ele pode ser aprovado para a atividade clínica ou trabalhar como pesquisador - explica Packter. - Em geral, apenas 30% dos alunos tornam-se clínicos. Segundo o filósofo, no mínimo 50 novos filósofos clínicos estarão formados até o final deste ano. O curso está sendo ministrado também nos estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Bahia, Ceará, Amazonas, e será implantado pela Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro, em 1999. Para fazer o curso e tornar-se um filósofo clínico, o interessado tem de ter o diploma de graduação em Filosofia em uma instituição de ensino superior reconhecida pelo MEC. O curso custa ao todo R$ 1,8 mil, que podem ser divididos em parcelas de R$ 100. O presidente da Associação Brasileira de Filosofia Clínica. Hélio Strassburger, informa que as perspectivas de trabalho são boas. Segundo ele, o Instituto Packter já atende em torno de 60 partilhantes na capital gaúcha. Os fundamentos do curso estão disponíveis para consulta no site http://www.filosofiaclinica.com.br. Mesmo com bom mercado, a Filosofia Clínica é ainda uma atividade sem regulamentação. O coordenador da pós-graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Denis Rosenfield, acredita que os filósofos não precisam tornar-se clínicos para disputar espaço no mercado de trabalho. O professor afirma que um filósofo tem formação para o terapeuta. O coordenador do curso de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Sérgio Sardi, diz que a Filosofia Clínica necessita ainda de um amplo debate acadêmico antes de ser considerada uma opção para os filósofos. O coordenador técnico do Conselho Regional de Psicologia, Walter Cruz, considera insuficiente a formação clínica oferecida pelo curso: - O curso de Psicologia dura cinco anos e não dá uma formação clínica plena. Não há garantias de que um filósofo clínico tenha competência para lidar com pacientes. |
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