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Revista Diálogo Médico ( abril de 99 ) Filosofia Clínica – Uma idéia que começa a crescer Você acredita que as idéias de Platão, Sócrates ou Aristóteles podem ajudar a resolver alguns de seus problemas pessoais? Que os pensamentos de Kant, Foucault ou Schopenhauer podem ser úteis para entender o que você sente sobre as dificuldades do seu dia-a-dia? O filósofo gaúcho Lúcio Packter, de 36 anos, acha que sim. Foi acreditando que a filosofia pode ser aplicada na prática e com ajuda financeira da família que ele fundou, em 1994, em Porto Alegre, o Instituto Packter. A intenção era somente reunir um pequeno grupo de filósofos para estudar e praticar a filosofia clínica, que acabava de inventar. A idéia deu tão certo que hoje há institutos em dez estados brasileiros e já estão abertas as inscrições para o primeiro curso de Pós-Graduação em Filosofia Clínica, na Estácio de Sá, no Rio de Janeiro. Depois de se formar pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Viamão, Grande Porto Alegre, e de fazer três cursos de pós-graduação nas áreas de filosofia e psicanálise, Packter escreveu sozinho 18 cadernos temáticos, selecionando algumas idéias de grandes teóricos da sua área e adaptando-as à clínica. Os cadernos serviriam de ponto de partida para ministrar as aulas no instituto que acabara de abrir. O objetivo da filosofia clínica é o mesmo da psicologia ou da psicanálise: ajudar as pessoas a resolver seus problemas. A forma de fazer isso, no entanto, é diferente. Num curso que dura dois anos, sendo o último semestre dedicado a um estágio prático, os alunos aprendem toda a teoria e ficam aptos para tratar os clientes. E aí já está uma diferença: os filósofos clínicos têm clientes, e não pacientes. Eles não usam nenhum conceito médico. - Não acreditamos num estado normal ou num estado patológico, nem enquadramos o que as pessoas sentem em tipologias. O que existem são manifestações, normalmente vinculadas ao contexto e que àquele momento em que a pessoa está vivendo – explica Packter. O primeiro curso começou com 15 alunos na capital gaúcha. Hoje, os alunos formados já abriram suas clínicas ou seus próprios institutos em outros estados. Não é permitido existir mais de um instituto por estado e é somente nos institutos que os filósofos – obrigatoriamente formados em faculdades reconhecidas pelo MEC – podem fazer a formação e se tornarem aptos a clinicar. A novidade da filosofia clínica logo chegou à mídia, que tratou de começar a popularizar as idéias de Packter. - Hoje não consigo nem dizer quantos filósofos clínicos estão formados ou em formação – confessa o idealizador da proposta. |
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