A RAZÃO
Santa Maria, 24 de fevereiro de 2003
Uma Terapia Diferente
O conhecimento da Filosofia acadêmica (teoria) direcionado à terapia (prática), centrada no sujeito como um todo no meio em que está inserido é o conceito da Filosofia Clínica.
“Trata-se de uma nova abordagem terapêutica. Ao invés de usarmos a psicologia ou a psicanálise, usamos a Filosofia, a teoria dada na Academia”, explica a filósofa clínica há 7 anos, Ana Maria Retamar (foto). Em março, mais um curso sobre o assunto terá início em Santa Maria.
Ana Maria Retarmar - ex-presidente da Associação Gaúcha de Filosofia Clínica
A Filosofia Clínica iniciou suas atividades em 1995, em Porto Alegre. Seu fundador é o filósofo gaúcho Lúcio Packter que, após 10 anos de estudos no Brasil e na Europa, construiu esta nova forma de terapia genuinamente brasileira. O Instituto Packter, fundado pelo filósofo, é um centro de Filosofia Clínica que oferece o curso de pós-graduação em Filosofia Clínica para filósofos formados em faculdades de Filosofia reconhecidas pelo Ministério da Educação e especialização para formados em outras áreas das humanas.
Hoje existem mais de 30 cidades com o curso de Filosofia Clínica. A Filosofia Clínica não trata de problemas de saúde.
“Nós trabalhamos os problemas existenciais. Através do diálogo e dos nossos procedimentos tentamos abrir as janelas para um novo caminho à pessoa, mas ela se encaminha por si mesma, ela faz suas escolhas, como sujeito atuante de sua história”, explica Retamar.
A pessoa que procura um filósofo clínico é chamada de partilhante, pois vai compartilhar seus problemas existenciais com o profissional.
“Ela nos procura porque realmente quer se conhecer, conhecer seus problemas e ser feliz”, afirma.
A consulta a um filósofo clínico pode ocorrer tanto em um consultório, como em um parque ou restaurante. Quem escolhe o lugar é o partilhante. Retamar conta que certa vez atendeu uma moça que tinha um problema de socialização muito forte e a terapia foi feita em um dos shoppings mais movimentados de Porto Alegre.
“Fizemos a terapia no local escolhido por ela, pois sua busca era justamente superar essa diiculdade, e acostumar num ambiente que por ela era considerado como nocivo”, destaca.
Segundo Retamar, muitas das pessoas que buscam o auxílio de terapia geralmente podem estar vivendo o que os profissionais denominam de “armadilhas conceituais”, que podem ser padrões de comportamento que a própria pessoa desenvolve ficando presa a eles.
“A Filosofia Clínica vai tentar amenizar ou romper este padrão, se assim o partilhante desejar”, explica Retamar.
Assim como os psicólogos se utilizam das teorias de Freud e outros, os filósofos clínicos usam as teorias de Sócrates, Platão, Aristóteles, Hume, Kant, Husserl, Wittgenstein, Foucault e Searle.