revista Cláudia (novembro de 2009)

 

Autossabotagem: quando seu maior problema é você

Chega de fazer gol contra. Se você anda boicotando suas chances de ser feliz, está na hora de driblar esse inimigo interno e mudar o placar. Especialistas ensinam como

Iracy Paulina

Quatro anos atrás, Thais Marques do Amaral, 28 anos, trabalhava num banco em São Paulo e tinha um bom salário. Sua função era visitar clientes para vender os serviços da instituição. Participava sempre de reuniões fora do escritório. Mas começou a perceber uma situação que se repetia: bastava agendar encontro com um novo cliente, para arrumar uma desculpa e desmarcar. Um dia, para evitar que isso acontecesse, combinou com o chefe que ele iria junto. “Assim, eu não teria como cancelar”, conta ela. Na data marcada, se viu tomada por um medo inexplicável e desabou numa crise de choro. “Meu chefe me deu força e se ofereceu para dirigir o carro. Para meu alívio, quando chegamos ao escritório do cliente, ele não estava e a reunião não aconteceu”, afirma Thais. Ali ela concluiu que não podia continuar daquele jeito: “Aceitei que eu tinha um problema e precisava resolver”. Muita gente nem percebe, mas, em maior ou menor grau, cai em situações similares de paralisia, em que um ato anula o outro. Por quê?

 

Como desativar as próprias armadilhas


No campo da Filosofia Clínica, corrente que usa a metodologia filosófica para tratar problemas existenciais, a autosabotagem é chamada de armadilha conceitual. “Trata-se de uma trama de conceitos que aprisionam a pessoa”, explica o criador da Filosofia Clínica, o filósofo Lúcio Packter, de Porto Alegre. Quem cai nessa teia descreve que tem a impressão de estar numa areia movediça. “No consultório, ao ouvir os relatos dessas pessoas notamos expressões como ‘eu nado, nado, e não saio do lugar’, ‘parece que a minha vida anda em círculos’, ‘quando mais eu busco, menos eu encontro’”, exemplifica.
Segundo ele, há inúmeras formas pelas quais uma trama conceitual pode atrapalhar a vida da gente, criando essa sensação de imobilidade.
O paradoxo é que nem sempre elas são nocivas – às vezes, atuam como proteção, cumprindo funções importantes de organização na estrutura do pensamento da pessoa”, afirma Lúcio. “Um homem que tem propensão a sair com várias mulheres pode se recolher, ativando uma “armadilha” que o torna pouco sociável”, exemplifica o filósofo. “Isso vai resultar em certos dissabores mas, por outro lado, garante sua estabilidade familiar com a mulher e os filhos”. Nesse caso, essa atitude foi a forma que conseguiu encontrar para proteger a dinâmica famíliar.
Na abordagem da Filosofia Clínica, o paciente aumenta a consciência sobre suas estruturas de pensamento, descobre como seus conceitos funcionam para ajudar ou atrapalhar sua vida – e assim conseguem  superar a sensação de paralisia, revendo seu modo de pensar e agir.