Opinião sobre Hospitais Psiquiátricos de Benedetto Saraceno, diretor de saúde mental da Organização Mundial Saúde.
Hospitais psiquiátricos de grande porte são o principal palco da violação dos direitos de pacientes com distúrbios mentais,avalia o diretor de saúde mental e abuso de substâncias da Organização Mundial da Saúde, Benedetto Saraceno.
Questionado sobre o melhor modelo de hospital para esses pacientes, ele respondeu: “Melhor é não existir”. A seguir, trechos da entrevista ao Estado.
- Quais são as violações mais freqüentes sofridas pelos pacientes com distúrbios mentais?
- A violação física é a pior delas. Ma há inúmeras outras. Falta de privacidade, falta de respeito, o desconhecimento do paciente sobre qual tipo de tratamento será submetido, a ausência de contato com a família.
- Onde as violações aos direitos de pacientes são mais comuns?
- Elas ocorrem em toda parte. Em países desenvolvidos, em desenvolvimento. Às vezes, um estado pode apresentar em um local um modelo de atendimento exemplar e, a poucos quilômetros dali, funcionar outro centro, onde a violação dos direitos é prática constante.
- O senhor afirmou que é comum a violação de direitos humanos em hospitais psiquiátricos de grande porte. Qual o modelo ideal?
- O melhor é não ter hospital. É trabalharmos de forma a criar uma rede de assistência, que evite ao máximo a internação. Paciente internado fica muito estigmatizado, ele fica vulnerável a ter seus direitos desrespeitados, o que pode também provocar uma série de conseqüências. Há outras formas de terapia, mais eficientes, condizentes com os direitos humanos. Isso vale sobretudo para pacientes jovens. A recomendação principal é garantir assistência ao paciente e fazer o máximo para evitar a primeira internação.
- Uma corrente ainda avalia que hospitalização é importante. Tanto para o paciente quanto para população e para a família.
- A população é que pode exercer algum tipo de risco para o doente mental, não o contrário. Geralmente eles são mais vulneráveis, não oferecem nenhum tipo de risco. É preciso de uma vez por todas acabar com esse estigma. A desospitalização, por outro lado, em nada coloca em risco a segurança do paciente. Há vários estudos que mostram que o tratamento ambulatorial, por exemplo, não aumenta o risco do suicídio, como diziam os defensores da manutenção dos pacientes em hospitais psiquiátricos. É preciso garantir ao paciente um tratamento adequado, dirigido, ambulatorial. Assim ele não perde contato com familiares, com a sociedade.
- Há alguma influência da desospitalização sobre o número de pessoas que vivem nas ruas?
- Críticos do processo de desospitalização sempre procuram fazer uma associação entre a redução dos leitos em hospitais psiquiátricos e o aumento da população que vive nas ruas. É um grande erro. O homeless faz parte de um problema social complexo, gravíssimo, relacionado à pobreza e, muitas vezes, ao alcoolismo. Mas a experiência tem demonstrado que a institucionalização dos pacientes não contribui em nada com esse processo. Não influencia nem o aumento nem a redução do número dessa população.
- Uma das prioridades da OMS na área de saúde mental é a redução do alcoolismo. Quais medidas o senhor considera importantes nesta área?
- Uma das providências mais efetivas é restringir a propaganda de bebida. Tal medida é fundamental para reduzir o consumo excessivo, sobretudo entre jovens. Outro ponto muito importante é garantir que as bebidas alcoólicas não sejam vendidas a menores."