Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica
Universidade do Extremo Sul Catarinense
Filosofia Clínica
"J. Livingstone escreveu: “a forma mercadoria penetra e reordena as dimensões da vida social até então isentadas de sua lógica, a tal ponto que a própria subjetividade se torna uma mercadoria a ser comprada e vendida, sob a forma de beleza, limpeza, sinceridade, autonomia”.
Isso chegaria à intimidade de fato? Estes padrões de consumo comportamental chegariam aos outros aspectos das nossas vidas? Segundo Bauman, sim: “Somos todos pressionados a consumir mais, e nesse percurso nós mesmos nos tornamos produtos dos mercados de consumo e de trabalho”.
Em seu livro, o pensador cita o filósofo russo, professor na Sorbonne, Leon Shestov: “Em cada um dos nossos próximos tememos um lobo... Somos tão pobres, tão fracos, tão facilmente arruinados e destruídos! Como haveríamos de evitar o medo? Vemos o perigo, apenas perigo”.
O que a Filosofia Clínica teria a participar desta discussão de uma possibilidade ética em uma era de consumidores?
Zygmunt Bauman mostra alguns dos principais problemas da possibilidade de uma ética nos dias que correm de algumas décadas para hoje. Um exemplo está no que ele denomina de “assassinatos categóricos”. Crianças, mulheres, homens abatidos por terem entrado em uma categoria que é fadada ao extermínio.
“Ao longo do século passado, aproximadamente seis milhões de judeus e, segundo algumas estimativas, perto de um milhão de ciganos, seguidos por muitos milhares de homossexuais e pessoas mentalmente incapazes, foram executados, envenenados e queimados pelos arquitetos da nova ordem mundial projetada pelos nazistas – porque eles não se encaixavam na ordem que estava para ser construída. ”
Mas Bauman não ignora que este não é um caso isolado.
“Antes deles, um milhão e meio de armênios haviam sido mortos por serem as pessoas erradas no lugar errado, seguido por dez milhões de genuínos ou supostos kulaks, fazendeiros ricos da Ucrânia, levados a morrer de fome por pertencerem ao tipo errado de gente a ser admitida no valente mundo novo sem classes. Depois deles, milhões de muçulmanos seriam aniquilados por constituírem um borrão numa paisagem uniformemente hindu, e milhões de hindus perderiam a vida por macularem a paisagem dos muçulmanos. Massacraram-se milhões por ficarem no caminho do grande salto chinês sobre a harmonia tranquila, imperturbada e simples, de cemitério, com a qual o Khmer Vermelho resolveu substituir o mundo confuso, ruidoso e sujo da humanidade crua. Todos os continentes do globo tiveram seus próprios hutus locais a chacinar os vizinhos tútsis, ao mesmo tempo que os tutsis nativos de todo lugar sempre pagaram aos seus perseguidores na mesma moeda. Todos os continentes tiveram sua cota de Darfur, Serra Leoa, Timor-Leste e Bósnia.”
Como a possibilidade de uma ética pode estar inserida nisso?"
postagem no Facebook do programa de rádio
Conversando com Lúcio Packter
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