O Globo ( setembro de 1997 )

O que é novidade nos Estados Unidos existe de forma organizada no Brasil há pelo menos quatro anos, quando foi criado o Instituto Packter, em Porto Alegre. O Brasil tem 300 filósofos clínicos e a experiência deles apresenta características próprias, a começar pelo nome da especialidade.

O precursor, Lúcio Packter, gaúcho de 35 anos, adotou o termo Filosofia Clínica, em vez de filosofia prática, e impôs uma série de regras e lições a serem respeitadas pelos profissionais.

“A tecnologia é nossa” - diz ele, por telefone, de Porto Alegre.

Packter conheceu a filosofia prática em viagem à Europa, no início dos anos 80, antes de se formar em Filosofia. Seus colegas da faculdade acabaram se tornando seus alunos. Hoje, há consultórios de Filosofia Clínica em cidades de outros seis estados: Bahia, Minas Gerais, Pará, Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Este ano foi criado o Conselho Regional de Filosofia Clínica.

O curso universitário de filosofia é obrigatório para quem quer se tornar terapeuta. O Instituto Packter oferece um curso de dois anos a filósofos interessados em pesquisar o assunto ou clinicar. Packter tem página na Internet, lançou semana passada o livro “Filosofia Clínica - Propedêutica” e pretende lançar, dentro de um ano, um tratado de 500 páginas sobre o assunto, com edições em inglês e alemão.

O tratamento no Brasil dura em média de seis a nove meses. Packter explica que a experiência brasileira se baseia exclusivamente em estudos de filósofos acadêmicos, como Sócrates, Hegel e Kant, o que a diferencia de tendências seguidas em países da Europa.

“- Nosso objetivo é trabalhar o que enconramos na Estrutura de Pensamento da pessoa” - afirma, acrescentando que a Filosofia Clínica não considera os conceitos de normal e patológico.

Críticas de filósofos e psicanalistas são comuns, admite Packter, que diz guardar respeito pela psicanálise.

“- Sabemos da briga entre Freud e os filósofos. A Filosofia Clínica não veio para substituir a psicanálise.”